Quando
eu morrer, quem sabe? Quem sabe terei devidamente aquilo com o qual sempre
sonhamos em nossa existência finita. A honra sem hipocrisia, o respeito sacralizado,
a lembrança sempre vista com carinho e saudosismo. Quando eu morrer, quem sabe?
Não precisarão mais agir com falsidades para comigo, pois de nada mais
interessará palavras lisonjeiras a alguém que se foi. Ao contrário, quando
morremos passamos para um estágio de um “respeito santo”. Falam dos mortos, da
maneira que esses mortos, quando vivos, sem dúvida desejariam que falassem
dele.
Quando
eu morrer, quem sabe? Receberei honra. A honra que talvez jamais receba em
vida. Talvez leiam meus textos, talvez publiquem, talvez vire nome de sala, edifício
entre outras coisas que os homens fazem para honrar a memória dos mortos. No entanto,
de nada mais valerá toda essa honra, se, em vida, não as recebi. Talvez vire
nome de rua, de cidade, mas o que importa? Se me privaram dessa honra em vida,
para que em minha morte? Ficarei na
memória de outros, sem ter memória de ninguém.
Quando
eu morrer, quem sabe? Entrarei em um nível de respeitabilidade que todos nós
desejamos em vida. Quando passamos daqui, as pessoas sempre se referem a nós
com carinho, falam sobre as coisas boas que fizemos e procuram não enaltecerem
os defeitos, as limitações e os erros cometidos. Com isso, não enxergam que era
esse tipo de respeito e consideração que desejávamos o tempo todo e não foram
capazes de perceber isso. A “memória” dos mortos é sacralizada na memória nos
vivos.
Quando
eu morrer, quem sabe? Serei para as pessoas aquilo que elas achavam de mim, mas
não tinham coragem de me dizer, talvez por vergonha ou para que eu não me envaidecesse
sobre o que pensavam. Mas pergunto: Por que os homens privam outros homens da
honra e o respeito devido em vida para dá-los depois da morte? Não consigo
entender. Talvez só entenda quando eu morrer. Quem sabe?
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