Veio, pois, a palavra do Senhor,
por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de
habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?
Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai o vosso
passado. Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não
chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vestis-vos, mas
ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel
furado. Ageu 1.3-6
Nos versículos iniciais do livro do
Profeta Ageu, podemos perceber a distinção entre o tempo de Deus e como ele age
nesse tempo, encorajando, exortando, consolando, repreendendo. Podemos ver
também que Ele nunca deixou de dar testemunho de si mesmo, de modo que o povo
não poderia justificar seus pecados por conta de uma eventual falta de
comunicação divina. Ele age no tempo, interferindo nas ações humanas.
Por outro lado, o povo, para justificar
a sua falta de compromisso e zelo para com as coisas concernentes aos Senhor,
tentava justificar seu pecado por meio de argumentos teológicos: “não é o tempo
de Deus para construir esta casa.” Que desculpa perfeita! Não é novo querermos
espiritualizar nossos erros e pecados para tentar até enganar a nós mesmos.
Aprendemos, assim, com os dois primeiros versos deste livro profético que não
devemos espiritualizar ou tentar justificar as nossas falhas e pecados sob o
manto da espiritualidade.
Com efeito, a falsa espiritualidade não
produz resultado na alma. O pecado sempre traz consequências, mesmo que
tentemos achar desculpas para justificá-lo. A verdade é que o povo não tinha
contentamento. Este é um efeito típico daqueles que insistem em continuar com
as práticas pecaminosas: a falta de contentamento. Elas nunca estão
satisfeitas, pois o pecado produz angústia, e a angústia produz ansiedade. O
fato deles criarem subterfúgios para tentar aplacar a culpa em seus corações
não foi suficiente para realmente viverem em paz.
Por sua vez, o profeta Ageu expõe de
forma clara o pecado do povo com uma pergunta retórica: Se não é o tempo do
cuidado com a casa de Deus, acaso, seria tempo de habitarem em casas luxuosas?
Com essa pergunta, o profeta tinha intenções. A primeira delas era mostrar que
aquele povo era egocêntrico e não colocava de fato as coisas do Senhor como
prioridade na vida, eles não davam a mínima para o capricho com as coisas do
Senhor. Em segundo lugar, as prioridades do povo estavam equivocadas. Isto é um
grande problema. Quando o Senhor não é a prioridade, certamente a prioridade
será equivocada. Ora, alguém poderia alegar que sua casa era bonita para melhor
servir a sua família. Por si só, esse argumento não é mau, pois, cuidar da
nossa família é algo bom, mas não deve ser maior do que o nosso amor a Deus. A
questão era: Por que cuidavam exclusivamente de si mesmos e desprezavam com
suas atitudes as coisas do Senhor?
Como podemos perceber no texto, o
resultado dessa atitude do coração foi a falta de contentamento em seus
corações. Muitas vezes não entendemos o motivo de apesar de termos uma boa
família, gostarmos da nossa vida, termos bons amigos e ainda gostarmos da igreja
onde congregamos, estamos sempre com uma sensação de que falta alguma coisa.
Camuflamos esse sentimento com a expressão “sempre se pode melhorar”, que
apesar de ser verdadeira, pode apenas também camuflar uma insatisfação contínua
em nosso coração.
Eles depositavam seu contentamento em um
saco furado, pois o Senhor não era a fonte do seu contentamento, isso era
evidente por conta das atitudes em não dar importância para com as coisas do
Senhor. Como veremos, o descaso com término do templo era o resultado da
atitude do coração. Com isso, devemos nos perguntar: O que Deus representa
verdadeiramente para nós? Estamos realmente dispostos a renunciar tudo, o
prazer, o descanso, os bens, as vaidades, pelo Senhor? Uma vida equilibrada
consiste em priorizar e descansar em Deus e viver os resultados dessa ação na
vida. Para aquele povo, não era o momento de descansar e folgar, mas de lutar e
produzir em Deus e para Deus.
Por fim, há uma frase nesta passagem que
nos chama à atenção. Essa frase aparece também em outros momentos do livro como
que chamando à atenção do povo a refletir: “considerai os vossos caminhos.”
Precisamos nos avaliar sinceramente. O que nos motiva a servir ao Senhor? Seria
exercer o poder sobre os outros? Seria o desejo se ser sempre lisonjeado? Seria
ainda mostrar uma espiritualidade que, apesar de bonita é vazia de sentido?
Consideremos também o nosso caminho sobre onde erramos como povo de Deus? Uma igreja
nunca acerta somente, mas erra também. Ela pode errar em suas estratégias e em
suas motivações equivocadas. Por isso, o apelo do profeta vale para nós também.
Consideremos o nosso caminho e consertemos com humildade os equívocos do
passado.
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